sexta-feira, 4 de maio de 2012

Nostalgia: 18 anos sem Ayrton Senna

E no especial de hoje, você confere uma justa homenagem para Ayrton Senna. Relembra também, os seus principais momentos e títulos. Uma boa leitura!
                                                          Senna – Uma maioridade sem um ídolo
Por: Davi Paiva da Silva
Neste 1º de maio, completam-se 18 anos da morte de Ayrton Senna. Muitos freqüentadores do Minilua são jovens e não devem se lembrar dele. Outros não devem saber tantos detalhes da vida dele quanto os que serão expostos nesta matéria talvez pela memória curta ou por realmente não saberem.
O meu objetivo nesta matéria é mostrar a vocês porque este homem é considerado até hoje um dos brasileiros mais influentes do país. Por que Schumacher, mesmo com os seus títulos, não o alcançou em termos de lenda automobilística ou por que Pelé, Ronaldo, Aurélio Miguel, Cesar Cielo, Anderson Silva e outros não podem ser comparados a ele. Vejam que antes dele ser corintiano, paulista, integrante de uma família rica ou qualquer outra coisa, ele foi uma pessoa… Uma incrível pessoa.
Ayrton – a pessoa
 Quem visse o filho de Milton e Neyde Senna que nasceu em 21/03/1960 quando era criança, não acreditaria na lenda que ele se tornaria o grande piloto que foi. O pequeno Beco como era chamado pelos pais era um garoto que apesar de ser de uma família rica, era generoso com as outras crianças emprestando seus brinquedos a elas – e as vezes, ficava olhando-as brincarem – e sua maior característica era a sua falta de coordenação motora: Ayrton era um canhoto (para sofrimento dos pais) atrapalhado, com canelas roxas e a testa cheia de galos. Era uma grande preocupação dos feirantes e sua mãe chegou a levá-lo a um neurologista para ver se ele tinha algum problema. O médico apenas constatou que ele tinha muita rapidez em executar o que queria – foi assim que ele quando criança, estava todo arrumado para ir a uma festa e entrou no carro correndo, deu uma cambalhota e caiu do outro lado, sujando-se em uma poça d’água – e que só lhe faltava precisão. Quando o pai dele o deu seu primeiro carro, um kart de motor de picadeira de cana de 3 cavalos de potência aos 4 anos de idade… Começava uma grande história.
Senna já dirigia muito bem e aos nove anos de idade participou de uma corrida. Mesmo com garotos mais velhos, ele garantiu sua pole position e a cinco voltas de sua primeira vitória, foi posto pra fora em um choque e seu pai o impediu de correr. Aos 12 anos, foi matriculado em uma academia de Judô e aquilo não deu certo: chegava atrasado na sala porque ficava correndo ou arrumava brigas para colocar em prática o que sabia de lutas. Milton não teve opção senão voltar a colocá-lo nas pistas (sem contar a pressão do garoto, pedindo por isto).
Voltou ao kart em 1973 e nesta modalidade, conheceu Terry Fullerton, que em uma entrevista do documentário “Senna”, de Asif Kapadia, apontou como o melhor piloto com qual competiu. Saiu de lá em 1980 e passou pela Fórmula Ford 1600 (81, onde foi campeão), Fórmula 2000 (82, também campeão com um recorde de 15 poles e 21 vitórias) e F3 (83, campeão com um recorde de 12 vitórias ao longo de 20 corridas).
Infelizmente, o que ele não pôde ganhar foi sorte em seu relacionamento com a namorada Lilian de Vasconcellos, a única com a qual se casara antes dos períodos de Fórmula 1 e se divorciou. A vida dos dois na Inglaterra era difícil em questões financeiras – Senna recusava pedir dinheiro aos pais e não queria que a esposa fizesse o mesmo – bem como questões de moradia. E acima de tudo, Ayrton era obcecado por correr e chegava a dormir em outra cama nas vésperas das corridas. O divórcio ocorreu em 1983.
Antes da modalidade que o consagrou, Senna foi obrigado a largar as pistas por dificuldades em lidar com patrocinadores e por ordem do pai que o pediu para assumir os negócios da família. O aborrecimento e a ajuda de um amigo da família, Armando Botelho, que ajudou com a parte burocrática da volta às pistas solucionaram tudo (ou quase tudo, como visto no parágrafo acima).
E assim entre todas estas idas e vindas, ganhos e perdas, Senna conseguiu seu contrato com a em 1984 na Fórmula 1.
Ayrton Senna – o piloto
 O começo de Senna na Fórmula 1 não foi fácil. O piloto chegou a dizer “quem fizer a primeira proposta me leva” e a Toleman não era uma grande equipe e nem tinha o melhor carro e em seu primeiro ano, conseguiu o nono lugar na tabela final de pontos e subir três vezes ao pódio (uma vez em segundo e duas vezes em terceiro). Parece pouco? Vendo por este aspecto, sim. Mas ser um novato nas pistas e ir escalando as posições no GP de Mônaco, um circuito difícil, até a segunda colocação e só não conseguir a primeira posição por interrupção da corrida (devido à chuva) não é pra qualquer um.
Já em 1985, na Lotus (motor Renault), Senna já despontava ainda mais: foi no GP de Estoril (Portugal) que conseguiu sua primeira pole position e sua primeira vitória (detalhe: com um minuto de vantagem sobre o primeiro colocado). A sua permanência nesta equipe lhe amadureceu o suficiente para conseguir o 4º lugar neste ano e no ano seguinte, além da terceira colocação em 1987.
Os meados deste ano também foram marcantes para Senna devido a uma brincadeira que terminou muito mal: Nelson Piquet havia espalhado o boato que Senna era homossexual e isto se alastrou no mundo da Fórmula 1 e no círculo das notícias sobre pessoas famosas. Ayrton teve que abdicar da companhia de um amigo e auxiliar, Américo Jacoto Júnior, que lhe fazia companhia e lhe prestava serviços. Foi uma época muito amarga na vida do piloto.
Já em 1988, Senna estava na McLaren (motor Honda) e tinha como parceiro o bicampeão Alain Prost, que se diferenciava dele por ser um piloto que prezava mais os pontos do que as vitórias. Alain “Professor” Prost quando precisava chegar em terceiro, fazia o possível para não sair desta colocação. Não competia pela segunda ou a primeira posição. Em suma, era um piloto tão bom quanto metódico quanto ao desempenho para conseguir o que queria.
Neste ano, a pressão sobre Senna era enorme. Ser de uma grande equipe e ter um dos melhores pilotos da época como parceiro significava ter que mostrar por que ele estava na Fórmula 1. Naquele ano, ele não podia dar desculpas.
E não deu…

Foi no GP do Japão em 1988 que Senna devido a um problema no motor, começou a corrida em 14º colocado e foi aos poucos, chegando à primeira posição passando pelos outros adversários, encarando chuva e Prost e terminou a corrida ganhando o campeonato mundial de 1988.
Já em 1989, a rivalidade com Prost atingiu níveis extremos: quando não era o brasileiro que ganhava, era o francês. E no GP do Japão, tal rixa atingiu níveis extremos: na 46ª volta, durante uma tentativa de ultrapassagem de Senna, Prost (em diversas futuras entrevistas alegou que) ia fazer a curva para o lado direito, lado no qual o seu colega de equipe tentava a manobra, ato que resultou em uma colisão que tirou o francês da corrida. O brasileiro ainda conseguiu entrar na zona de manobras (Chicane Casio) sendo empurrado pelos japoneses, dirigiu até os boxes com o bico do carro quebrado e lá fez a troca, retomando a corrida e vencendo-a. Infelizmente, sua entrada na chicane foi considerada irregular e Senna foi desclassificado. E pela contagem de pontos, Alain Prost foi campeão mundial em 1989 e no ano seguinte, começaria sua carreira na Ferrari. Somando isto com o término de seu relacionamento com a apresentadora Xuxa, só podemos concluir que este foi um ano muito ruim na vida do piloto.
Em 1990, para muitos, foi o ano da vingança: se Prost não terminasse a penúltima corrida daquele ano que era o Grande Prêmio do Japão, Senna seria campeão. E mesmo com a pole position, o piloto brasileiro não ganhou direito ao lado mais usado da pista (por sua vez mais limpo e com maior tração) e teve que ficar com o lado mais menos usado (e por sua vez, mais sujo) enquanto o francês ficava com o seu lugar. E segundo as palavras de Senna:
 “Balestre [presidente da FIA, Federação Internacional Automobilística, compatriota e amigo de Alain Prost] influenciou a decisão. Eu sei disso. Nós sabemos disso.
O sistema ferrou comigo várias vezes. Aí hoje eu disse para mim mesmo. Hoje, de jeito nenhum.
Hoje é do meu jeito.”
E assim que foi dada a largada, Prost que estava em primeiro ia fazer uma curva para a direita quando a roda traseira do seu carro colidiu com a roda dianteira do carro do segundo colocado e ambos colidiram com a murada de pneus em um impacto impressionante.
E quem era este segundo colocado? Ayrton Senna.
E com a colisão, Senna tornou-se bicampeão mundial de 1990.
O ano de 1991 foi marcante para Senna. Nigel Mansell, outro grande rival que pilotava pela Williams foi o seu grande adversário naquele ano (Prost foi dispensado pela Ferrari durante aquele ano, pelo excesso de divergências) e contava com motores mais potentes que os fornecidos ao brasileiro. Mas nada disto o impediu de suas duas grandes conquistas: a primeira foi a vitória no GP de Interlagos durante uma chuva e a poucas voltas do final, com o câmbio emperrado na sexta marcha, fazendo-o se esforçar tanto para dirigir que desmaiou ao término da corrida, com cãibras e sendo obrigado a tomar injeções de glicose e anti inflamatórios (Ayrton nunca havia vencido no Brasil até aquele ano) e a segunda foi  ter se tornado tricampeão mundial.

1992 foi outro ano duro na vida de Senna. A Williams tinha um sistema automático de marchas e ajustes eletrônicos e assim, bastava o piloto pisar fundo. Neste ano, Senna teve o quarto lugar na tabela final de pontos e viu Alain Prost pilotar este “super carro” (detalhe: a única exigência do francês foi não ter novamente o brasileiro como parceiro).
Já 1993 foi um ano que para muitos, foi o melhor de Senna: mais uma vitória no Brasil, início de namoro com Adriane Galisteu (sua última namorada), vice-campeonato e um dos momentos mais incríveis da Fórmula 1 (segundo ninguém menos que Bernie Ecclestone): ultrapassar 5 pilotos em uma pista molhada na qual todos reclamavam que não tinha espaços para ultrapassagem. É indescritível o que ele fez em Donnington Park no GP da Europa de 1993.

1994
Prost tinha se aposentado no ano anterior. Rubinho e Schumacher já davam as caras (o primeiro como amigo e o outro como rival) e acima de tudo, Senna agora pela Williams encontrava um grande problema: estabilizar um carro que por ordens da FIA, tinha que dirigir sem os componentes eletrônicos que fizeram história nos dois anos anteriores, assim como os outros pilotos também estavam sob a mesma condição da exclusão de tais componentes (mais tarde, foi comprovado que Schumacher utilizava tais equipamentos em seu carro). Foram 3 pole positions e 2 acidentes naquele ano.
Até que em 1º de maio de 1994, na sétima volta do GP de San Marino, Senna liderava a corrida que teve que ser recomeçada depois de um acidente entre os pilotos Letho (Benetton) e Lamy (Lótus) sendo que o dia anterior, Ratzenberger (MTV Simtek) havia morrido em uma colisão e dois dias anteriores, Barrichelo também se chocara contra um muro, sofrendo alguns ferimentos.
 Era na sétima volta que Senna ao tentar fazer a curva Tamburello, notou problemas na suspensão e em 1.3 segundos, tirou o pé do acelerador e pisou no freio, reduzindo 310 km/h para 216 e ainda instintivamente colocou os braços a frente do rosto para se proteger.
 Nada disto deu certo.
 Um braço da suspensão atingiu a junção do capacete com a viseira em cheio. O choque foi tão grande que o cérebro dele chacoalhou dentro do crânio. Era um golpe devastador no piloto que foi sentido por muitos brasileiros. Segundo o médico da Fórmula 1 e amigo de Senna, Sid Watkins:
 “Ele suspirou por um instante e seu corpo relaxou. E foi naquele momento… eu não sou religioso… mas eu pensei que o seu espírito tinha partido.”
Senna – o mito
 Nos anos 80 e 90, o Brasil sofreu inúmeras mudanças político-sociais, artísticas e viu muita coisa acontecer no mundo dos esportes: fim da ditadura, impeachment de Collor, a derrota das seleções de 82 e 86 (consideradas umas das melhores que já tivemos), a primeira medalha de ouro no Judô de Aurélio Miguel em 1992, etc. E entre tantos altos e baixos, a crise que se agravava em nosso país fazia com que todos tivessem vergonha de serem brasileiros.
 Ayrton tinha orgulho de ser brasileiro. Aonde quer que fosse, levava discos de cantores nacionais e sempre erguia a bandeira nacional com orgulho. Diferente de Nelson Piquet, ele foi mais cordial com a mídia e assim a Globo pôde vender a sua imagem. Mas enganam-se aqueles que acham que a rede de televisão carioca criou um herói: a mídia cria astros assim como os destrói. E quando viram que nas rixas entre Senna VS. Piquet/ Prost/ Mansell/ Balestre/ Schumacher o brasileiro não entregava os pontos (afinal, renderia muitos pontos de audiência uma mancada em rede nacional), não tiveram escolha senão falar dele como um verdadeiro herói.
 Também se enganam aqueles que acham que Senna corria única e exclusivamente por amor as corridas. Sim. Senna teve uma paixão incontestável por corridas. Mas sabia se valorizar. “No money, no race” era uma de suas frases que obrigavam o chefe de sua equipe a pagar o seu salário sem nenhum atraso, mesmo que os sistemas bancários não operassem em um final de semana. Uma atitude que para muitos hoje em dia poderia ser taxada de mercenária, mas ele tinha em mente duas coisas quando pedia isto: ele sabia que era bom. E que merecia o pagamento.
Instituto Ayrton Senna – o legado
 Até hoje, o IAS ajuda mais de 2 milhões de crianças por ano desde 1994, ano de sua fundação. O piloto também foi personagem de uma revista em quadrinhos – Senninha – que foi criada no mesmo ano do instituto, cujas publicações foram até 1999 e depois foram retomadas pela Ed. Panini alguns anos depois. Infelizmente, a falta de popularidade do piloto com o público jovem repercutiu no cancelamento da revista.
 Mas o seu maior legado é a sua influência, tanto no mundo brasileiro como no automobilístico. Em 2003, a revista inglesa F1 racing fez uma pesquisa com 32 pilotos, ex-pilotos, chefes de equipe, engenheiros e jornalistas para escolherem quem “no esporte automobilístico, fez a diferença”, como diz a revista. A classificação final foi:
 1º Bernie Ecclestone
 2º Enzo Ferrari
 3º Ayrton Senna
 5º Jackie Stewart
 6º Juan Manuel Fangio
 7º Michael Schumacher
 9º Jim Clark
 E abaixo, o depoimento sobre Senna na revista:
 “Nenhum de seus antecessores conquistou sua excelência. Somente Michael Schumacher rivaliza sua fama. Onde Senna permanece único é na reverência quase religiosa sempre associada ao seu nome, que cresceu a partir de sua morte. Seu funeral no Brasil teve a escala de grandes estadistas. Outro James Dean do automobilismo, Senna permanecerá sempre jovem para os milhões que choraram por ele, garantindo sua condição de ícone para gerações futuras. Detestado por alguns, rejeitado equivocadamente por outros invejosos de seu talento, raramente, senão nunca, compreendido, Senna permanece para os que o viram com uma síntese – ou mesmo o apogeu – do significado da expressão “piloto de competição”. Sua influência se estendeu além de sua própria geração e é incontestável que ele entendeu o que significava para os que o adoravam. Mas esqueça o mito: lembre-se da realidade. Senna podia manter o público num estado de encantamento com suas hipnotizantes jornadas além do limite. Ele nos levou a lugares que não sabíamos que existiam.”
Fontes:
RODRIGUES, Ernesto. Ayrton – o herói revelado. Rio de Janeiro.

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